sábado, 28 de junho de 2008

Cachorro adota filhotes de leão
















http://itodas.uol.com.br/portal/casa_e_comida/colunistas/juliana_bussab/materia.itd.aspx?cod=3918&canal=387&Pagina=1

Cachorro adota filhotes de leão

Juliana Bussab

Em visita à Africa, a jornalista Juliana Bussab flagrou um labrador que adotou uma leoa, rejeitada pela mãe por nascer com um problema nas patas traseiras. E não foi a primeira...

Na província de Limpopo, na África do Sul, em uma das muitas reservas usadas para safáris fotográficos, encontrei uma história de amor que é, no mínimo, curiosa.

Prince, um "labralata", de mais ou menos 6 anos, não é como os outros cães de estimação comuns. Quando ele vem correndo pelas trilhas em sua direção, você logo toma um susto: ao lado dele vem uma leoa, Chuby, dois anos de idade e três vezes maior do que Prince. E os dois saem rolando no chão e brincam de pega-pega como velhos amigos.

Chuby, a leoa, nasceu com um problema congênito nas patas traseiras e por isso foi rejeitada pela mãe. A reserva, que tem um programa de proteção e preservação da espécie, criou a felina em cativeiro. E Prince é a única mãe que ela conhece.

Mas ela não é a única. Ao longo dos anos, Prince adotou diversos leõezinhos, e cuidou de cada um, como cuida sempre, como se fosse seu.

Manso, esperto e amigável, Prince é um cão sem igual. Ainda filhote, os donos da reserva notaram que ele tinha uma afinidade especial com os leões. Desde o primeiro filhote rejeitado pela mãe (e foram muitos), Prince vai junto bancar a babá. E, desde então, vem criando filhotes e mais filhotes felinos.

É ele quem ensina o leãozinho ainda bebê a desenvolver atenção e reconhecer os perigos. Prince também ensina a socialização com os humanos e, por isso, esses órfãos se tornam confiáveis o suficiente para caminhadas com os turistas. Se é amigo do Prince, é amigo deles também.

A idéia é que proporcionando essa interação entre humanos e leões, as pessoas se concientizem da importância do trabalho de proteger a espécie que, acreditem ou não, ainda sofrem com a caça na África do Sul por estrangeiros ricos, que viajam especialmente para isso. Basta pagar uma pequena fortuna por um documento que autoriza a caça dos animais. Eu tive a infelicidade de ver alguns deles e o arsenal de armas que carregavam.

Quando completam por volta de 2 anos, as leoas já tem uma força incontrolável. E quando o instinto do felino que estava adormecido, começa a aparecer, é o cão que as acompanha nas novas empreitadas, apesar de não fazer a menor idéia do que é caçar. Não é a toa que Chuby atacou um javali, e como não sabe matar, começou morder a perna do bicho ainda vivo, achando que era mais um pedaço de carne. Enquanto Prince olhava com desaprovação, o javali correu, mancando, provavelmente pensando: mas que diabos de leoa é essa?

É por causa dessa força e por não obedecer mais aos comandos do cão ou dos tratadores que as caminhadas são suspensas e um outro leãozinho entra em cena. Aquilla um bebê de 2 meses é o mais novo amigo de Prince. Enquanto Prince corre entre os turistas, o filhote desbrava a mata, sobe em troncos e aguça seus instintos. Mas quando se vê sozinho, chora pedindo ajuda e lá vai Prince rápido como uma mãe que vê seu filhote em perigo. Uma bela lambida depois e Aquilla segue o cão, que indica o caminho seguro a seguir.

Com Chuby, as caminhadas são mais emocionantes. Prince corre na frente, a leoa corre atrás, o alcança, o derruba e os dois começam a brincar. Mordidas, tapas, movimentos traiçoeiros e muita agitação. Quando a brincadeira sai do controle e um dos dois reclama de dor, um dos nativos que acompanha a caminhada tenta separá-los com uma vareta, e balbucia em africânes sua sabedoria: "Errado! Errado! Espécies diferentes". Mas parece que nenhum dos dois está ligando muito para isso...

Homem é preso por criar ursa para a filha na Índia















http://www1.folha.uol.com.br/folha/bichos/ult10006u415555.shtml

Homem é preso por criar ursa-beiçuda para a filha na Índia
da Associated Press, em Nova Déli

Esta deveria ser a comovente história de um homem que adotou uma ursa órfã das florestas no leste da Índia para torná-la parte da família, confortando a filha pequena que havia acabado de perder a mãe. Mas, quando as autoridades ambientais viram a notícia na mídia local na semana passada, virou uma tragédia.

Ursa-beiçuda (Melursus ursinus) Rani e Ram Singh Munda na bicicleta do indiano; animal se recusa a comer em zoológico
Ram Singh Munda, 35, foi preso por violar leis ambientais. A ursa foi mandada para um zoológico, onde se recusa a comer. E a filha de seis anos está em um internato.
Agora, ativistas, sensibilizados com a compaixão de Munda, tentam libertá-lo e reunir a família.
"Condenamos fortemente o modo como as autoridades prenderam esse homem pobre e analfabeto que não sabia das normas oficiais", afirma Jiban Ballav Das, líder da entidade People for Animals no Estado de Orissa.
Munda é um trabalhador oriundo das tribos que vivem nas florestas a cerca de 200 quilômetros ao norte da capital do Estado, Bhubaneswar. Ele disse que achou o filhote no ano passado enquanto recolhia lenha.

Munda, a ursa-beiçuda Rani e Dulki, filha do indiano, que foi mandada temporariamente para um internato após a prisão do pai
Munda levou o animal (uma ursa-beiçuda) para casa e o batizou de Rani (Rainha).
Ele tornou-se membro da família, ainda abalada com a morte da mulher do indiano no ano anterior --especialmente sua filha, a pequena Dulki.
"Eles me prenderam. Como minha filha vai sobreviver?", perguntou o indiano no canal CNN-IBN enquanto era levado para a prisão. "Não consigo entender por que fui punido por cuidar bem de um urso que estava perdido na floresta e poderia ter morrido se eu não o tivesse levado para minha casa."
A ursa está em uma área isolada do zoológico da região.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Militantes da civilização

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1606200806.htm

MARINA SILVA


Militantes da civilização

NA SEMANA PASSADA o Congresso brasileiro recebeu dois grandes homens: um bengalês e um indiano, ambos cidadãos do mundo. Muhammad Yunus, Prêmio Nobel da Paz de 2006, criador do Banco da Aldeia, que deu aos pobres microcrédito e oportunidade de gerar emprego e renda. Rajendra Pachauri, Nobel da Paz em 2007 como chefe do IPCC, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, que demonstrou a gravidade do aquecimento global e a urgência de medidas para controlar seus efeitos.
É paradoxal a singeleza com que trazem uma pororoca de desafios que a humanidade não pode banalizar nem deles fugir. Ao lado de seus temas específicos -pobreza e mudanças climáticas-, Yunus e Pachauri são portadores do grande tema oculto de nosso tempo: a coragem, tanto para mudar quanto para manter o que tem que ser mantido.
A sociedade de consumo, amplamente vitoriosa, nos impõe uma derrota acachapante: o fatalismo, a crença de que o mundo é assim mesmo, atracado a um conceito de civilização assustador, cuja medida de avanço é o aumento da capacidade de consumir. Quanto trabalho humano e quanto em recursos naturais e energia são gastos para multiplicar consumo perdulário?
Não fosse nosso insustentável desejo de ter, essa força monumental poderia ser redirecionada para dar habitação digna, saúde, alimentação, educação e meio ambiente equilibrado para todos.
Fatalismo pode ser explicação plausível para tanta inércia diante do que podemos chamar de Consenso dos Insensatos, o conluio de poderes para colocar interesses pequenos sempre à frente quando se trata de combater os impactos da máquina de produzir "civilização" descartável, risco ambiental e exclusão social.
Yunus e Pachauri são pessoas simples, discretas. Ambos se dedicam a levar o extraordinário para o dia-a-dia. Lembram que há espaço para a contribuição de todos, de onde saem as grandes mudanças.
Mostram a conexão inexorável dessa nossa encruzilhada civilizatória: não há soluções isoladas. Os instrumentos são econômicos, tecnológicos, sociais, mas eles serão inócuos sem um redirecionamento de processos e de demandas. Isso implica decisões pessoais e coletivas, culturais e espirituais, éticas e até estéticas. O caminho que leva ao abismo nos dá sinalizações para a volta. Há que fazer escolhas.
Hoje, para quem quiser se engajar, não é mais possível ser só ambientalista, ou só militante de causas sociais, políticas, culturais. É preciso se engajar em tudo, ser militante da civilização.

contatomarinasilva@uol.com.br